Mais de meio século em 5 capítulos
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Mais de meio século em 5 capítulos

05/03/21

As histórias por trás da grande história de sucesso do escritório Brasil Salomão e Matthes Advocacia, na voz de seu fundador.

Introdução

A descoberta de uma vocação está entre as grandes questões humanas. Muitos de nós levam uma vida inteira para descobrir o que nasceu para fazer bem. Alguns sequer têm esta sorte. Para Brasil do Pinhal Pereira Salomão, a vocação despertou pelo brilho de uma certa placa prateada em seus olhos de menino.

Foi como um sinal.

A década de 1940 caminhava para seu final quando o pequeno Brasil, então com sete anos de idade, impressionou-se com a gravação do nome “Dr. Jaime Martins de Oliveira”, numa placa instalada na fachada da residência do colega Moacir de Oliveira. Era a banca do pai do garoto, advogado conceituado no interior de São Paulo, que hoje dá nome a uma sala do Fórum de Monte Aprazível.

O menino Brasil, nascido em Espírito Santo do Pinhal (SP), em 18 de novembro de 1941 –  achou aquilo “o máximo”. Descobriu ali um sonho de ter uma placa como aquela, com seu nome gravado.

Dr. Jaime faleceu em 1957 e o jovem que ele inspirou com sua placa estava no velório. Brasil continuou amigo de Moacir, o terceiro filho de Jaime, por toda a vida. Com o quarto e último filho, Regis Fernandes de Oliveira, protagonizou um reencontro memorável.

Também advogado, com carreira brilhante na magistratura, Regis chegou a ser prefeito de São Paulo – vice de Celso Roberto Pitta, assumiu quando do afastamento do titular, em 2000. Quando desembargador, foi convidado a lançar um livro seu na cidade em que o já adulto Brasil Salomão atuava. “Eu lhe contei esta história envolvendo o pai e ele me deu a placa de presente”, conta, emocionado, o homem por trás do escritório de advocacia mais longevo e bem-sucedido de Ribeirão Preto, que hoje estende seus serviços por todo o País e além-mar.

Mas esta é uma outra história…

Há muitas mais entrelaçadas na grande história de mais de meio século de Brasil Salomão e Matthes Advocacia, e elas merecem ser degustadas em capítulos. Essa foi só uma introdução.

O sonho

Situada a 240 km de Ribeirão Preto, a Monte Aprazível da infância de Brasil Salomão era pequena, com ruas de terra e calçamento precário. O trabalho de seu pai, José Pedro Salomão, funcionário público na Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, levou a família para lá e também para outras cidades do interior depois dela.

Enquanto isso, Brasil crescia.

A próxima cidade a exercer papel determinante na vocação do jovem foi Rio Claro. Aos 13 anos, quando cursava a 3ª série (ginasial) no Ginásio do Estado Joaquim Ribeiro, Brasil teve contato com uma orientadora pedagógica. Quando ela perguntou na classe quem já sabia o que queria fazer da vida, Brasil foi o primeiro a responder: “Direito”. Ela, então, orientou o jovem a procurar informações reais sobre a profissão junto a pais de amigos que eram advogados. Assim fez Brasil, e o sonho de infância ganhou força na adolescência.

Mas os pais não apoiavam o plano. Funcionários públicos – a mãe, Vera Cruz Pereira Salomão, era professora primária –, comungavam as aspirações em voga entre os pais da época: ver o filho passar em um concurso para Banco do Brasil ou Banespa. O pai até cultivava um conceito ruim dos advogados e achava que ganhavam mal. Queria mesmo que o filho fizesse Medicina.

Sob tal influência, Brasil acabou prestando concurso para a Secretaria de Estado da Fazenda. Passou. Mas, paralelamente, ingressou na Faculdade de Direito Laudo de Camargo, da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp).

O sonho não estava esquecido.

De 1963 a 1968, Brasil Salomão fez carreira na Fazenda – primeiro como coletor estadual em Ribeirão Preto, em seguida como inspetor de arrecadação – administrando mais de 50 cidades na região – e, por fim, chefe de postos fiscais em municípios como Pontal, Jardinópolis, Barrinha, Santa Rosa de Viterbo, São Simão e Cravinhos. Exercia o cargo em Ribeirão Preto quando formou-se em Direito, em 1967.

A esta altura, já estava casado com Lúcia Helena Viana Salomão, sua grande parceira até hoje.

Veio em 1968 o convite que o faria, finalmente, realizar o sonho de infância. E partiu de um amigo que sequer era advogado. Antônio Carlos Próspero, o Caio, era então um empresário bem-sucedido, que trabalhava com rifas de caminhão, mas queria mudar de ramo. Por isso, propôs investir na criação da banca de advocacia de Brasil. Se o amigo aceitasse, ele mesmo ingressaria no vestibular para o curso de Direito. Mas o preço era alto para o bacharel: abandonar a segurança do emprego público.

Lúcia Helena estava, então, grávida do primogênito, Marcelo. Ouviu o convite de Caio ao lado do marido e por ele foi consultada na hora. Achou “interessante”. Olhou para o Simca Esplanada – um dos carros brasileiros mais caros da época – de Caio e perguntou: “Se o Brasil for advogado vai dar pra ele comprar um carro desses?”. Ao que o amigo respondeu: “no primeiro ano”.

“Assim foi que o meu primeiro companheiro na banca não era nem advogado, nem estudante. Virou estagiário e um amigo de coração, um irmão, daqueles que a gente faz para vida. Excepcional!”, derrama-se Brasil.

Foi dada assim, sem garantias, como um pulo no escuro, a largada para a realização, pelo adulto Brasil, do sonho de menino.

Os primeiros clientes não se esquece

Caio alugou uma sala do Edifício Padre Euclides, no Centro de Ribeirão Preto, para o escritório. A inauguração foi realizada em 1º de março de 1969. Enquanto ele estudava, Brasil chamou Alberto Abbud, seu colega na faculdade, para integrar o escritório. Levou junto tudo o que aprendeu na Fazenda do Estado, sobretudo em administração e organização. “A Secretaria era um modelo e isso me ajudou muito depois, à medida que o escritório foi crescendo. Havia um princípio básico de gestão, de papéis, de andamentos, de prazos, de agendamento, que eu aprendi na Secretaria, pois as faculdades de Direito não têm essas matérias”, pontua Brasil.

Sua experiência na pasta também rendeu o primeiro cliente do escritório. No segundo dia de funcionamento. Francesco Cammilleri foi à Secretaria da Fazenda questionar uma autuação que seu restaurante, Bella Sicília, recebeu, com base em um entendimento de que a venda de frango assado era uma atividade industrial. O estabelecimento operava uma daquelas máquinas de assar frangos aos sábados, que atraía grandes filas de clientes à porta. Localizado, à época, numa esquina das ruas General Osório e Barão do Amazonas, em frente ao saudoso Cine Centenário, o Bella Sicília era também um ponto de encontro dos funcionários do posto fiscal da Fazenda em Ribeirão. Foi um amigo de Brasil Salomão quem orientou Cammilleri a procurar o escritório.

E foi graças a esse primeiro honorário que Caio Próspero jamais precisou complementar o salário de Brasil, como havia prometido se este recebesse menos que no antigo emprego. O processo levou anos, mas foi bem-sucedido e iniciou a fama do escritório na área tributária.

“Não tenho como esquecer o primeiro cliente, que me procura no segundo dia de abertura do escritório. Ele é o número 1 no meu coração. Fizemos uma homenagem ao Franceso Cammilleri quando abrimos a pasta de número 50.000. Ele era a de número 1”, declara Brasil.

Em seguida vieram a família Ignácio, dos irmãos Fábio e Mário, distribuidores de banana para a região; o revendedor de tijolos e areia Francisco Morandini; e as famílias de panificadores de Ribeirão e região Crispim, Dall Picollo e Pane.

As panificadoras procuraram o escritório quando o Estado passou a lhes cobrar um imposto novo – o ICM – de uma forma que o advogado fundador já sabia ser arbitrária. “Eu arrisquei entrar com um mandado de segurança. Nunca tinha feito. O primeiro grupo que me procurou foi a família Crispim e fui bem-sucedido”, lembra.

Padarias de várias cidades, como São José do Rio Preto, Votuporanga, Fernandópolis, passaram a procurar o escritório, que nessa época cresceu muito. “O pessoal brincava que eu era o “advogado das massas”. Não a populacional… as de pão”, diverte-se.

Enquanto o escritório crescia já nos primeiros anos, a família formada por Brasil Salomão e sua esposa Lucia Helena também crescia. Em 1971, tiveram a segunda filha, Simone Viana Salomão. Brasil Salomão conta que os dois filhos cresceram dentro do escritório, vendo o pai ter como premissa atender aos clientes em tempo integral, mas sem nunca perder a atenção à sua família.

Crescer para não perder cliente

Após a Revista dos Tribunais destacar o trabalho do escritório junto às padarias e outras atividades comerciais, clientes passaram a procurar seus serviços para causas em outras áreas.

Com grande expertise mais na tributária, Brasil Salomão teve então a visão de buscar, para cada nova causa em área que não dominava, um sócio especialista. “Acho que nosso crescimento se deve muito a essa primeira iniciativa, de crescer para não perder o cliente”, analisa.

Com o crescimento vieram as filiais. A primeira foi aberta em São Paulo, em 1994. Era uma sala pequena com dois advogados e dois estagiários – um dos quais era Ricardo Sordi Marchi, hoje sócio no escritório

A segunda, em Franca (SP) (2002), iniciada com Mário Archetti, cresceu muito graças ao sucesso obtido também em causas tributárias, nos segmentos de calçados e de revendedores de pneus. “Eu devo muito à família Archetti e depois à família Terra, do senhor Walter Terra, no escritório em Franca”, diz Brasil Salomão.

Com o crescimento de casos na área trabalhista, veio (em 2005) a necessidade de uma filial também em Campinas (SP), sede do Tribunal Regional do Trabalho, responsável pelos processos de todo o interior de São Paulo.

Posteriormente vieram as de Goiânia (GO) (2008), Três Lagoas (MS) (2009), Belo Horizonte (MG) (2010), Rondonópolis (MT) (2017), Cuiabá (2018) e no mesmo ano as de Portugal, nas cidades de Porto e Lisboa. O nome do escritório atravessava o Oceano Atlântico.

Justo, Brasil Salomão faz questão de esclarecer que o mérito do crescimento para as filiais, sobretudo para Portugal, não tem dedo seu. “É mérito, força e cultura dos jovens talentos que cresceram aqui, tornaram-se advogados e hoje dirigem o escritório. Eu apenas consenti, assistindo sem opinar, talvez até com um medo que eles não tiveram”, declara, consciencioso.

Orgulhos

Escorre orgulho da fala de Brasil Salomão ao comentar a atuação das “crias” do escritório, que formam a geração deste 50º ano. Marcelo Salomão, filho de Brasil, entre eles.

Marcelo entrou no escritório aos 14 anos. Passou por telefonia, recepção e supervisão de outros sócios, como todos os estagiários, até formar-se em Direito na mesma faculdade cursada pelo pai.

Brasil lembra que uma das conquistas mais marcantes da história do escritório teve trabalho e esforço dele: foi a alteração de uma súmula pelo Supremo Tribunal Federal, com forte repercussão na área tributária. “Naquela época levava 20, 30 anos para uma súmula ser modificada. Era dificílimo. O Marcelo Salomão discutiu o assunto conosco, passou a noite inteira no escritório fazendo um trabalho, foi a Brasília, levou ao ministro presidente do Supremo Tribunal Federal e uma semana depois a súmula estava revogada, quase com um pedido de desculpas”, conta o pai.

Outra “cria” do escritório tem seu nome gravado na atual placa, “Brasil Salomão e Matthes Advocacia” – antes foi “Brasil e Cândia” e “Brasil e Viana”. José Luiz Matthes chegou ao escritório indicado pelo padre e ex-bispo em Franca Dom Diógenes Silva Matthes, que foi muito importante na vida familiar dos Salomão. “Chegou no escritório com cabelos longos. Eu falei que tinha que cortar o cabelo, ele chorou [risos]”, lembra Brasil.

O jovem “bicho-grilo” revelou-se um talento extraordinário desde os tempos de estágio. “Foi estagiário na minha sala, suportou meu mau humor naquela época. Um dia, vendo que eu tinha um trabalho muito forte pra adaptação de vários clientes em um parcelamento que o Estado de São Paulo deu, falou: ‘o senhor não quer que essa parte eu faça?’. Aquilo me encantou. E ele fez muito bem feito”, descreve Brasil. Hoje, José Luiz Matthes é um nome respeitadíssimo da área processual tributária.

Sobra orgulho de Brasil Salomão para toda nova geração do escritório, composto hoje por 146 advogados, 37 colaboradores e 63 estagiários. Tem dito, inclusive, que as homenagens que recebe deveriam ser dirigidas aos novos colegas, diretores do escritório.

“De alguma forma, embora eu esteja aqui atendendo, participando, eu sou passado. Eles são o futuro. Eu acho que o escritório não pode ter a visão do retrovisor. Tem que olhar para frente”.

Receita de sucesso

“ ´Sempre acreditamos que ‘Cavalo arriado não passa duas vezes; É preciso montá-lo´ Não faz mal que desmonte lá na frente, mas tem que fazer isso, como eu fiz quando o Caio me procurou para largar a segurança do serviço público”. Esta fala de Brasil Salomão encerra um dos ingredientes da grande receita que confere ao escritório a excelente reputação de que goza hoje.

Também entram nesta receita ética, cultura jurídica – forjada com estudo contínuo – e respeito por todos os atores envolvidos nos processos do Direito. “Sempre tive um respeito muito grande pela magistratura, pelas autoridades policiais, pelo Ministério Público e sobretudo pelos meus professores. Enquanto meus professores foram vivos, todos os anos, no Dia do Professor, eu passei carta ou telegrama para eles. E isso exigiu de mim, por respeito a eles, procurar ser um bom advogado”.

Para Brasil, o bom advogado ainda deve saber ouvir, pois quem o procura, como regra geral, vem com um problema. O profissional deve ter paciência para ouvir e conhecimento para dizer quando o cliente tem ou não o direito que reivindica. “O advogado competente tem que ser, em seu foro íntimo, o primeiro juiz da causa. Se colocar-se nessa posição, por certo, com ética, será bem-sucedido na profissão”, sentencia Brasil.

Pessoalmente, ele confessa ter se pautado por dois pensamentos ao longo de sua trajetória profissional. Um deles: “O marinheiro que não sabe de onde vem o vento não sabe para onde vai”. “Isso me obrigou sempre a procurar sentir no mercado de onde ele vinha, em nível de advocacia, para onde caminhava, que novas áreas deviam ser abertas”, diz.

Outra repetida por Einstein reza “que existem, no mundo, dois tipos de pessoas: as que não acreditam em milagres e as que acham que tudo é milagre”. “Eu sou do segundo tipo. Acho que é tudo um milagre. Eu acho que sobre todos esses cavalos arriados que passaram, os estribos que nos apresentaram pra  subir tiveram um sentido de milagre. É assim que eu vejo”.